quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Michael Jackson e a filosofia da vontade, por Schopenhauer

O cantor, dançarino e compositor Michael Jackson foi o único
que alcançou o título de "Lenda Viva" na história do Grammy.
Algumas pessoas podem achar esse título até mesmo excêntrico; outras, talvez, podem pensar que é um título deslocado: deveria estar em assuntos relacionados à música ou à arte. Falar sobre Filosofia é difícil, assim como é difícil falar sobre Michael Jackson sem causar polêmica. Gostaria de contribuir com um ponto para esta discussão.

Este homem, nascido em Gary, no Indiana, em 29 de agosto de 1958, mudaria para sempre o destino da música pop.
Não digo isto sozinho. Que digam por si mesmos os álbuns "Off the wall", "Invincible", "Thriller". Isso sem falar de "Dangerous", que foi aclamado pelos críticos americanos como o melhor disco da música pop! Muitos dos seus álbuns foram aclamados como os mais vendidos da história, e isso porque Michael lançava de quatro em quatro anos!

Mas quero dar enfoque à grandeza do talento de Michael Jackson de outra maneira. Em um post mais antigo, eu comentava sobre a filosofia de Arthur Schopenhauer. Até fiz mérito de falar um pouco sobre a estética do nosso tempo. Citei também algumas atitudes de Lady Gaga, que na visão de Schopenhauer, não tinham nada a ver com arte. Por favor, caros fãs, não fiquem irados com esta frase. Mas explico porque Schopenhauer provavelmente escolheria ouvir o cd "Thriller" do que "Born This Way".

A ideia do filósofo sobre arte era muito clara. Quem gosta um pouco mais de história da filosofia (e de conhecer a biografia dos filósofos) sabe que a vida de Schopenhauer não foi tão interessante assim para ele. Foi derrotado popularmente por Hegel, além de ser um homem sozinho, nervoso e depressivo. De tanta raiva que tinha da vida, até chegou a tentar matar uma velhinha, empurrando-a da escada. A velhinha sobreviveu, e Schopenhauer teve que pagar a pensão de saúde até a morte dela (natural, é claro).

O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860)
Com todas essas nuvens negras que pairavam sobre a cabeça de Schopenhauer, ele precisava desenvolver uma teoria que explicasse o porquê de tanta desgraça na vida, e melhor: como sair dela. Para isso, desenvolveu a ideia de vontade. Para ele, a vontade era a única coisa que permanecia no espírito do homem. A vontade é o que faz um homem ser humano. A realidade também é cega e irracional, e é por essa razão que acontecem coisas ruins a nós. A vontade não morre porque cria em nós a necessidade de reprodução. O instinto sexual que existe em cada um de nós, portanto, é expressão da vontade que existe em cada um. E porque um homem escolhe suas melhores pretendentes? A vontade, que não é nada boba, vai orientá-lo para escolher sempre as melhores mulheres (melhores no sentido "irracional" da coisa!!!).

Alguém poderia dizer: "Tudo bem, Sr. Arthur, entendi... Mas não me convenci por que o mundo sofre!". Schopenhauer responderia dizendo que o mundo é vontade. A vontade, sendo sempre insatisfeita (pois sempre deseja algo), faz com que o homem sofra, pois fará que sempre ele queira algo mais do que ele já tem. A satisfação desta vontade conduz ao tédio. Ou seja, a vontade é a raiz dos males do homem.

Michael meditando no seu clipe "Scream"
Como fazer para que estes males sejam superados, então? O conhecimento não adiantaria. Do contrário, até atrapalharia (se o homem conhece, ele aumenta sua sensibilidade, tendo ainda mais vontade). O suicídio também não é boa alternativa, pois a vontade existiria nos outros seres humanos. Somente acalmando a vontade é que se pode superar o mal do mundo. Neste ponto, Schopenhauer se aproxima do ideal do budismo, o qual afirma que o homem deve renunciar todas as coisas do mundo presente e elevar-se à Transcendência de si mesmo (o conhecido "nirvana"). Esta ideia também existe no pensamento dos filósofos estoicos, na Grécia Antiga. Eles diziam que o homem deve alcançar a ataraxia, ou seja, a imperturbabilidade. Explico. Sabe quando alguém fala quando você dorme, ou quando um mosquito te pica durante o sono? Então, é isso. A ataraxia é não se perturbar ou se assustar com nada, por mais estranho ou ruim que seja.

A "Pietá", de Michelangelo, uma das maiores obras de arte
da Humanidade
Schopenhauer afirma que a arte é um caminho para sair deste mundo ruim e cheio de tédio. A arte tem a missão de elevar o homem, aliviando a sua vontade. Sublimando as vontades (os instintos) do homem, a arte pode ser um caminho de libertação do homem. Isso apoia o gosto que Schopenhauer tinha pelas artes; ele era um grande apreciador de todas as artes, especialmente da pintura e da música. Sua flauta está até hoje guardada no seu museu, na Alemanha. Exatamente pelo fato que era um homem estressado (cheio da "vontade" de bater em Hegel, talvez!), Schopenhauer utilizava da arte para sair deste mundo e entrar em uma outra dimensão, onde todas as vontades eram sublimadas e ele poderia gozar da ataraxia, ou seja, uma quietude no espírito.

Agora, fãs, preparem-se: explico o que isso tem a ver com o Rei do Pop. Michael fazia questão de dizer que seus fãs sentiriam orgulho de ser fãs de Michael Jackson. E de fato, se orgulham mesmo. Não é só pelo fato de ter discos vendidos, ou de ser capas de revista... É o talento daquele homem que causa orgulho em seus fãs! Ouça músicas dele, como por exemplo, "Butterflies", "Heaven can wait" ou "Break of dawn". Muitas das pessoas que ouviram essa música me disseram que elas se transportam para uma outra dimensão quando ouvem os acordes da música e a voz de Michael! E aí está o que Schopenhauer mais queria... Que a arte levassem as pessoas a sair do mundo, mas não um sair por sair... É sair do mundo para acalmar esta vontade louca que existe em cada um de nós!

Michael Jackson no seu famoso clipe "Black Or White",
onde apela para a paz entre as etnias humanas
É por isso que gostaria de deixar um recado: quando você for ouvir um artista, goste dele pelo talento que ele tem, e não pelo que a mídia fala dele! Eu não gostava de Michael Jackson. Confesso. Acreditava piamente nas acusações que faziam contra ele. Hoje mudei meu ponto de vista. Não quero entrar na questão das acusações (tenho argumentos para defender Michael de todas!), mas digo que aprendi a amar Michael por aquilo que ele fez (na arte, na história do pop, nas ações de caridade) e por aquilo que ele era (ou ainda é). Infelizmente a mídia inverteu os papéis: os melhores não são os mais talentosos, mas são os que vendem mais. E muita gente ouve sem saber o que se passa, acreditando em tudo que a mídia fala! Você acha que estou exagerando? Leia a letra da música "Tabloid Junkie", e compare com a letra da música "Paparazzi". Não escolhi Lady Gaga porque tenho raiva dela, mas porque as duas músicas falam basicamente da mesma coisa.

Enquanto Michael alerta para o cuidado que devemos ter com a mídia ("Just because you read it in a magazine/or see it on the TV screen/don't make it factual" - Só porque você leu numa revista/ou viu na TV/não acredite), Lady Gaga afirma: "We're plastic but we still have fun" (nós somos plásticos [falsos] mas ainda nos divertimos). Me diga uma coisa: você prefere viver numa verdade, olhando as coisas com sua própria consciência, ou prefere viver se divertindo numa mentira? Schopenhauer disse que devemos sair do mundo para acalmar nossas vontades, mas nunca deixar de lado o nosso pensamento. E por falar em vontades, confira o que Lady Gaga diz em "Born this way". Ao ler, provavelmente, Schopenhauer teria medo.

Michael canalizava suas vontades no palco. Ele desenvolveu talentos monstruosos ao pensar firmemente que seu desejo era ser o melhor, mas nunca se gloriou disso. Ele queria apenas presentear seus fãs com um presente que os fizessem esquecer sua dor. Como ele mesmo diz: "Nunca me encho de orgulho ou penso que sou melhor que o vizinho. Ser amado é uma coisa maravilhosa. É a razão principal por eu fazer o que eu faço. Eu me sinto compromissado com isso, a dar às pessoas um sentimento de escapismo, um presente para os olhos e os ouvidos. Eu acho que é a razão para eu estar aqui". Creio que nem preciso dizer mais nada. Michael, em seus pensamentos, apenas presenteava seus fãs com suas músicas. E, graças a isso, a humanidade ganhou presentões como "Thriller", "Smooth Criminal", "Wanna Be Startin' Something" (que Rihanna usou em "Don't Stop The Music!), "Butterflies", "Smile" (uma soberba versão da épica música de Chaplin), e várias, várias outras músicas...

Entendeu agora por que o Schopenhauer ouviria um CD do Michael Jackson? :-)

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