sábado, 26 de fevereiro de 2011

Luther King: uma crítica social


















"Fábricas imensas comandadas por computadores, cidades que engolem a paisagem e atravessam as nuvens, aviões que desafiam a noção do tempo -- todas essas são coisas impressionantes, mas não podem ser espiritualmente inspiradoras. Nada em nossa resplandecente tecnologia pode elevar o homem a novas alturas, porque o crescimento material foi transformado num fim de si mesmo, e, na ausência de propósitos morais, o próprio homem se torna menor na medida em que suas obras se tornam maiores." (Martin Luther King)



Depois dessa frase genial que li no livro As Palavras de Martin Luther King (2010), na bela edição da Zahar, senti-me obrigado a comentá-la, levando-a para o campo político. Essa é também a minha visão de pós-modernidade: a mesma do bom pastor King, depois de longos cinquenta anos.

"Nada em nossa resplandecente tecnologia pode elevar o homem a novas alturas [...]." Nesta frase, para quem gosta de lógica, deve existir uma 'des-concordância'. Se a tecnologia é resplandecente, como que ela não levaria o homem a novas alturas, ou ao menos a um espanto diante de si ou de suas obras? A tecnologia não leva a lugar algum, diz King, porque não faz sentido algum. O trabalho, que era fonte de prazer e dignidade humana, torna-se agora dissabor em meio aos computadores que tomam o lugar do homem, tornando-o um mero escravo de sua máquina. O trabalho não faz mais sentido porque perdeu sua finalidade essencial: tornar o ser humano hábil.

King afirma adiante que a democracia é "esvaziada" quando o homem não participa mais de sua sociedade. Poderíamos pensar que isso acontece diariamente nas cidades de nosso país. Quantos homens são mandados embora diariamente porque uma só máquina faz o trabalho desses dez, vinte, trinta operários... Sem participação na cultura (eles não têm acesso fácil), sem participação no ambiente de trabalho (eles já foram mandados embora), sem perspectivas de vida, o que acontece? Provavelmente encontraremos nossos amigos no bar, cantando músicas à Boemia. Eliminando o indivíduo de uma participação ativa na sociedade e fazendo-o crer de que isso é natural, teremos pessoas fracas, dependentes de um sistema hipócrita, não tendo nenhum argumento para rebatê-los. Quando que, no Brasil, filosofia ou ao menos política (não partidarismos) são debatidas aos domingos na TV aberta? A receita do Imperador César, mesmo que seja antiga, continua infalível: com o pão e circo é que se consegue a "Pax Romana".

Podemos concluir essa reflexão com o seguinte pensamento: se fazemos parte de um sistema que se diz democrático, se nós trabalhamos para nossa subsistência e necessidade, e se nossos desejos não são alcançados, devemos colocar a boca no trombone! É bonito exercer a democracia apertando botõezinhos de urna eletrônica, é bonito exercer a democracia fazendo debates entre partidos políticos, é bonito exercer a democracia no mundo da pólis. Difícil é dar a cara pros tapas de gente sustentada por nós que não está nem aí para a população, difícil é estudar e lutar para ser um político digno de sua indumentária. Eu só quero ver se alguém aqui tem coragem de morrer como o Luther King.

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