sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Epicuro e o Facebook?

Poderia Epicuro imaginar as redes sociais como existem hoje?
Gostaria hoje de apresentar a você o pensamento de Epicuro, um filósofo da época helenista, depois do tempo de Platão e Aristóteles. Epicuro é famoso por desenvolver uma filosofia hedonista, ou seja, voltada para o prazer. Isso fez com que muitas pessoas o criticassem muito, achando que Epicuro queria apenas o prazer, a qualquer custo. Como gosto de Epicuro, vou ajudá-lo a explicar que ele não é tão hedonista assim, e que os amigos tem uma função primordial na vida do homem.

O Facebook é uma das maiores redes sociais no mundo, tendo sua
sede nos Estados Unidos. Como sempre, há uma grande presença
de brasileiros na rede.
Quando se referia ao prazer, Epicuro se referia à uma vida feliz, livre e bem analisada. Para ele, o prazer não é como a nossa ideia de prazer (que, muitas vezes, se restringe apenas ao prazer sexual). Para ele,
uma boa refeição causa prazer, uma conversa jogada fora causa prazer, a contemplação da natureza causa prazer... Ou seja: se você ver alguém dizendo que Epicuro é um filósofo lascivo e hedonista (no sentido ruim do termo), esqueça! O prazer era algo muito sério para Epicuro, sendo este o motivo da felicidade. Só que o prazer não se busca assim, de qualquer jeito, em qualquer hora, em qualquer lugar. Não poderia dizer que Epicuro foi um asceta (até mesmo porque a cultura grega em geral não contemplava ideais de ascetismo), mas este filósofo gostava de praticar o que dizia, vivendo com grande frugalidade. O que faz com que Epicuro seja considerado hedonista é que ele afirmava que nós não devemos nos sentir culpados por desejar uma vida prazerosa.

O "Jardim de Epicuro" frequentemente é retratado como
um banquete muito animado, onde existem pessoas
bêbadas e nuas. Esta ideia não se adequa
muito ao pensamento epicurista.
Epicuro saiu da cidade de Atenas para fundar uma comunidade que não dependesse de chefes tirânicos para sobreviver. Para isto, ele comprou um jardim fora dos muros de Atenas e apelidou aquele lugar de "O Jardim". Por que comprar um jardim fora da cidade? Porque para ele, as agitações do comércio e da pólis (cidade) poderiam atrapalhar a busca da felicidade. Primeiramente, eles deveriam esquecer que existisse dinheiro. Depois, eles deveriam trabalhar para o próprio sustento. No "Jardim", eles deveriam viver como uma comunidade alternativa, onde todos se auxiliariam e viveriam sem as intrigas e discussões da cidade. Epicuro não negava o sexo e a diversão, por exemplo, mas ele dizia que a felicidade não está baseada nestas coisas. Ele mesmo não possuía muitas roupas, e pedia aos seus amigos que o presenteassem com queijo, para que ele pudesse fazer seus banquetes! O filósofo que muitas vezes é chamado de "lascivo", de "concupiscente", vivia de uma maneira tão sóbria que nem sequer isso passava pela nossa cabeça!
As compras exageradas, para Epicuro, não passam de
mera futilidade. Coisas materiais não bastam para
encontrar a felicidade.

Para Epicuro, o homem deseja a felicidade, mas não consegue encontrá-la. Por isso, volta seu desespero para as coisas materiais, que por um momento fazem o indivíduo sentir-se saciado. Mas depois, o desespero vem novamente, e o que fazer? As coisas materiais não podem fazer o homem ser feliz de fato, pois elas são passageiras e atendem apenas a um momento de desejo (ou como René Descartes diria, paixão). Uma pessoa pode ser muito rica e comprar tudo aquilo que desejar, mas ela será infeliz e vazia se ela não tiver o essencial. Quantas vezes nós já vimos uma pessoa próxima ou até nós mesmos compramos algo que não era necessário e nos sentimos culpados? O dinheiro nos oferece poder, e iludidos por este poder, pensamos que podemos comprar tudo, ter direito a tudo, até mesmo ser tudo... Mas, isto não é o essencial e, mais cedo ou mais tarde, a falta irá aparecer. A solução é que o enigma da felicidade, para Epicuro, era bem fácil de ser descoberto.

Epicuro dizia que a refeição só faz sentido se bem acompanhada. Ele disse:
"Alimentar-se sem um amigo é para leões ou lobos".
O primeiro ingrediente da felicidade era a amizade. A inovação no pensamento de Epicuro se instala aqui: amigos não são aqueles com quem você se encontra para conversar e comer pizza; amigos não são aqueles com quem você desabafa seus segredos; amigos não são aqueles que você telefona porque está com saudade. Os amigos seriam companheiros permanentes, ou seja, morariam junto com você. Eles deveriam estar com você o tempo todo, inclusive para as refeições. Para Epicuro, é impensável comer sozinho. "Antes de comer ou beber qualquer coisa", ele escreveu, "pense em companhia de quem você vai fazer isso, mais do que no que vai comer ou beber. Alimentar-se sem um amigo é para leões ou lobos". Os amigos deveriam estar fisicamente próximos, fazendo com que este se sentisse feliz e livre.

Para Epicuro, a reflexão (Filosofia) é um ingrediente para a felicidade.
Uma vida bem analisada e sem excessos pode levar o homem a
viver de maneira tranquila, consequentemente feliz

O terceiro ingrediente da felicidade é uma vida refletida. O indivíduo deve pensar bem antes de agir, e além disso; ele deve refletir que rumo ele está dando para a sua vida. Desta maneira, se uma pessoa não tem dinheiro, mas tem amigos, auto-suficiência e responsabilidade, possui a felicidade. A pessoa que tem dinheiro, mas que não possui amigos, ou controle nos gastos, ou auto-suficiência não poderá possuir a felicidade. Para Epicuro, portanto, a felicidade não é apenas a busca de um prazer irrefletido, mas a soma de amigos, uma vida bem ponderada e auto-suficiência (não depender de ninguém para o próprio sustento.
O que isto tem a ver com as redes sociais? Epicuro não gostaria de viver com "amigos" que não podem estar conosco o tempo todo. Para ele, seria perda de tempo manter relações virtuais que não tem um fundamento real. Os amigos, sendo um ingrediente para a felicidade, devem estar presentes em todo o tempo de nossa vida, não somente em uma rede social. O pior é que estas redes sociais podem ser viciantes, tornando seus usuários dependentes. Lanço aqui algumas perguntas feitas por Epicuro, para que você possa refletir no seu dia-a-dia:

1. Os meus amigos virtuais são mais importantes que meus amigos "reais"?
2. Eu sinto necessidade de postar na Internet tudo aquilo que eu faço?
3. Fico triste quando alguém não corresponde ao que eu queria?
4. Muitas vezes eu esqueço de pensar em mim ou fujo dos meus problemas usando as redes sociais.
5. Acho que é muito mais fácil encontrar amigos na internet, pois eles estão de acordo com os meus gostos e preferências.
6. Acho que eu morreria se minha rede social (Orkut, Facebook, Twitter, MSN, etc) acabasse!
7. Sou tímido e só me sinto livre nas redes sociais.

Se você respondeu "Sim" a mais de três afirmações, Epicuro pede que você pare e repense sua maneira de usar a internet!

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