Infelizmente algumas pessoas não reconhecem os grandes feitos do passado. Mais infelizmente ainda é que isto também acontece na Filosofia. Algumas pessoas que não entendem nada criticam a Filosofia "Medieval", como se esta fosse ultrapassada, arcaica, escrava da teologia, e etc. Ainda bem que esta não é a maioria. Os filósofos que viveram na Idade Média desenvolveram grandes sistemas, sem falar na grande inovação na Metafísica e na questão dos Universais, resolvida por Pedro Abelardo.
Gostaria de apresentar agora um grande amigo: amado por alguns, odiado por outros, mas conhecido por todos: o nosso Tomás de Aquino.
O filósofo italiano São Tomás de Aquino (1224-1274) |
Nascido em Aquino, no Reino de Nápoles (Itália), Tomás nasceu, de acordo com Etienne Gilson, de 1224 a 1225. Passou nove anos no mosteiro, educado pelo seu tio Sinibaldo. Depois de concluir o curso de "Artes" (Filosofia) em Nápoles, entrou para a Congregação dos Padres Dominicanos em 1244. Passou grandes dificuldades para seguir a vida religiosa. Seus irmãos o sequestraram no caminho a Paris, e só foi libertado pela intercessão da sua irmã. Ao voltar para Paris, provavelmente foi educado por Santo Alberto Magno. Em 1257, junto com São Boaventura, recebe o título de mestre em Teologia, podendo das aulas. Graças ao seu amigo Guilherme de Moerbecke, pode ter acesso aos escritos de Aristóteles na língua latina. Ao ser convocado para o concílio em Lyon, na França, Tomás morre no convento dos Irmãos Cistercienses, em 7 de março de 1274.
Na Filosofia, Immanuel Kant e os neokantianos foram grandes opositores do pensamento de São Tomás. Mas no início do século XX vários pensadores católicos (dentre eles Pierre Teilhard de Chardin e Jacques Maritain) rebateram as críticas dos pensadores neokantianos. Esta reação também teve lugar na encíclica "Fides et Ratio", de 1998, onde o Papa João Paulo II expõe a corrente neotomista.
Para São Tomás de Aquino, a fé e a razão não são separadas. Elas, juntas, elevam a mente do ser humano para Deus. Já para Kant, o mundo é dividido em dois: o mundo numênico (o mundo da coisa-em-si) e o mundo dos fenômenos (o mundo sensível). Enquanto a Filosofia deve se encarregar do mundo dos fenômenos para conhecê-lo, Deus é desconhecido, pois não posso conhecê-lo de maneira sensível (pela minha sensação). Kant diz que Deus deve existir somente para que eu aja de acordo com a moral.
Para São Tomás de Aquino, a fé e a razão se colaboram. |
Enquanto Kant pensa assim, São Tomás vai em uma direção oposta (na minha visão, é até mais bonita). Para Tomás, a Filosofia e a Teologia possuem relações estreitas. Elas são autônomas, mas se colaboram. A Filosofia e a Teologia se diferem por sua finalidade: enquanto a Filosofia deve investigar o mundo, estudando as coisas como fenômenos naturais, a Teologia deve receber a Revelação de Deus, dando acesso às verdades da salvação.
Além disso, a Filosofia e a Teologia se diferem por seus métodos. Enquanto a Filosofia começa de baixo para cima (concreto-abstrato), a Teologia começa de cima para baixo (Deus-homem). A Teologia é mais perfeita, porque começa com o Todo (Deus), englobando as partes (Criação). Ambas, porém, estão em busca da Verdade única. A Verdade eterna (Teologia) é fonte das verdades criadas (Filosofia).
O filósofo judeu Moisés Maimônides (1135-1204) |
Seguindo os passos de Moisés Maimônides, Tomás cita cinco motivos que o filósofo judeu mostra para afirmar que a razão não é absoluta:
1. O conhecimento do mistério é difícil de ser alcançado, devido à sua profundeza e abstração;
2. Na juventude, o intelecto humano não está totalmente desenvolvido;
3. A demonstração do mistério só adquire exemplos e conhecimento de maneira paulatina (de pouco a pouco);
4. Certas pessoas não têm talento para os estudos;
5. A luta pela existência e o cuidado com os afazeres humanos absorvem a maior energia do ser humano.
Para Tomás, a finalidade da fé é acreditar; a finalidade da razão é conhecer. Eis o porquê da fé e da razão estarem tão unidas. Para alcançar a Verdade, deve-se ter fé; mas ao mesmo tempo é necessária uma mente que questione e esteja interessada em conhecer. As mentes preguiçosas que pensam que uma fé ingênua basta não vão a lugar algum, assim como os pretensiosos-a-Deus. Somente uma razão potencializada pela fé, ou uma fé avivada pela razão podem levar o homem a assumir sua dignidade de filho de Deus, aproximando-se de seu bondoso Criador.
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